Etiqueta: Bolívia
Meninos das minas: sem infância e sem futuro
A montanha começa a cuspir homens azuis, cobertos de pó de estanho. Alguns não são bem azuis mas acinzentados, alguns não são bem homens mas crianças, meninas e meninos. A. tem 14 anos e entra na mina todas as noites. O Cerro Rico de Potosí é uma das minas mais perigosas do mundo. Durante doze … More Meninos das minas: sem infância e sem futuro
Guia de sobrevivência em La
La Paz é uma cidade apaixonante para explorar a pé ou de teleférico é relativamente segura desde que se cumpram cinco regras: 1. Ande em grupo e depois do anoitecer sempre em táxis legais ( o ande em grupo é para gringos mais inseguros, eu não o faço, embora é importante que se tenha consciência … More Guia de sobrevivência em La
Crónica de viagem: La Paz
Acordei com 2 graus negativos. O céu está de papel de seda azulão. Brancas nuvens verticais dão drama ao céu de inverno. Como se fosse necessário. Desci a pé até ao centro, uma caminhada de mais de uma hora por ruas estreitas, umas desertas outras fervilhantes de vida ( não me perdi como em Dhaka, … More Crónica de viagem: La Paz
Dia da mãe boliviano
Estou aqui enrolada como um poente a pensar no dia de hoje. E espero estar à altura da grandeza do gesto que me brindaram. O 27 de Maio é o dia da mãe na Bolívia e o dia das Heroínas de Coronilla, mulheres que aqui em Cochabamba, em 1812 lutaram contra o colonialismo espanhol sendo … More Dia da mãe boliviano
Pipocas
No português melodioso do Brasil há palavras que nós portugueses não usamos e onde cabem mundos. Hoje descobri uma nova. Piruá. É o nome dado aos grãos de milho que não rebentam, não se transformando em pipocas. O autor brasileiro Ruben Alves escreveu que “tem muita gente piruá neste planeta”. Pessoas que não … More Pipocas
Dói-me o tempo
Esta manhã quando liguei a radio estava a dar a irónica e provocadora prece de Janis Joplin “Oh Lord…” Sai do Hotel e detive-me a conversar uns minutos com uma idosa que pede em frente à Igreja da Recoleta. Mariluz teve 14 filhos, vários morreram, outros estão no Brasil ou espalhados pela Bolívia. … More Dói-me o tempo
Cochabamba a felina
Cochabamba é uma cidade que nos agarra pelo pescoço como um felino e nos coloca no colo para um diálogo de delicadezas. Eu explico. Não é fácil aqui chegar, exige esforços quase acrobáticos, desta vez “apenas” , nem da distância. “As paisagens externas iluminam a nossa paisagem interior para o bem e para o mal”. Tenho … More Cochabamba a felina
Atropelada
Desatenta ou concentrada, Cochabamba sempre me atropela. Não falo do trânsito caótico, exceptuando algumas tangentes feitas pelas geringonças que aqui circulam, além dos impropérios dirigidos à minha doce mãe, tenho conseguido manter-me viva. Falo de coisas ligadas aos sentimentos. A questão aliás nem sequer é geográfica e se me refiro a Cochabamba, é porque aqui … More Atropelada
Postais (politicamente incorrectos) de Cochabamba
O dia em que conheci Evo Morales
1. Isto vai meter um Dodge pré-histórico, um museu arqueológico e o presidente da Bolívia, tudo por acaso, mas há que contar como. As ruas em redor da formosa Plaza 14 de Setiembre cheiram ao ananás que as cholitas, indígenas-cartão-postal, vendem cortado em fatias. Procuro o alívio da sombra. Inti, o deus sol inca, despertou … More O dia em que conheci Evo Morales
Nano-post
Cochabamba é cidade de cores tão fortes que se alojam nos sonhos: rosa, laranja, amarelo, verde, caramelo. Cores selvagens de Gaugin sob céus andinos. Baixo o olhar sobre as cholas na Plaza, no mercado e deslumbro-me. A felicidade tem uma escova de dentes em muitos lugares.
Relógios descolonizados
Sabem qual é uma das coisas mais espantosas da Bolívia? O relógio. O oficial. A velocidade com que correm as horas não mudou, apenas o sentido em que giram os ponteiros. Aqui giram para a esquerda. Desde a instauração do estado plurinacional da Bolívia, em 2009, que se criou um vice-ministério da descolonização para “recuperar … More Relógios descolonizados
Manual de sobrevivência ao táxi boliviano
1. Jamais vista calças brancas (sempre que se sentar levantará uma nuvem de pó de fazer inveja aos todo o terreno do Paris-Dakar). Vista jeans (reforçados) para não sentir as molas soltas do assento. 2. Aconselha-se o uso de tampões de ouvido ou vacina anti-pimba latino-americano (cujas letras são recorrentes: amor não correspondido e ciúmes … More Manual de sobrevivência ao táxi boliviano
Até já
Parto para a Bolívia. Passei por aqui para dizer até já pedindo a palavra emprestada a Sophia. Há cidades acesas na distância, Magnéticas e fundas como luas, Descampados em flor e negras ruas Cheias de exaltação e ressonância. Há cidades acesas cujo lume Destrói a insegurança dos meus passos, E o anjo do real abre … More Até já
O sistema – take 2
Adoro historias estranhas, quanto mais improváveis melhor. Em particular quando me acontecem a mim. A noite foi curta. Às duas da madrugada já estava ao telefone com a agência para me encontrarem um voo com destino à Alemanha. Depois de muitos emails “é impossível”, “está tudo lotado”, chegou pelas nove da manhã a noticia redentora: … More O sistema – take 2
O sistema
Afirmar que o rosto mudou de cor é uma convenção literária. Mas foi o que me aconteceu esta manhã no balcão de check-in da Avianca. “Não encontramos o seu voo no sistema”. “Como?” . ” Não encontramos o seu voo”. Argumento mostrando a versão impressa com itinerário Santa Cruz -Lima-Bogotá-Frankfurt. “Sim, eu sei que a … More O sistema
Santa Cruz de la Sierra, finalmente
Apanho o avião na melancolia molhada de Frankfurt e aterro onze horas depois em Bogotá. Eldorado é um aeroporto bonito, arrumado, vivo, cheio de luz. Agora estou aqui a contemplar El Market, loja soberba de café e chocolate, onde o cheiro adensa memórias – ai o café torrado nas leitarias de Lisboa antiga – e … More Santa Cruz de la Sierra, finalmente
Um dia da mãe diferente
Quando entro no terreiro a fogueira já está reduzida a brasas. No chão, a ch’alla com as oferendas, parece uma aguarela a secar ao sol. Serpentinas coloridas, ervas aromáticas, folhas de coca, cigarros e pequenos objectos de cera representando dinheiro, saúde e sucesso, símbolos do sol e da lua incas, cruzes cristãs. É uma síntese. … More Um dia da mãe diferente
Mais postais de Quillacollo
Sob céus andinos
1. Devo à espanhola Icíar Bollaín (realizadora de “Tambíen la lluvia”, que venceu o prémio do público na Berlinale em 2011) ter visitado Cochabamba mesmo antes de apanhar o meu voo de Frankfurt. No ano 2000 o Banco Mundial forçou o presidente boliviano, Hugo Banzer, a quem alguns chamam chamam ex-ditador, como se um ditador … More Sob céus andinos
Postais de Quillacollo
Cruzamentos
1.Escrevo sentada no aeroporto de Buenos Aires, com a cabeça cheia de tango, enquanto o espero pelo voo atrasado que me levará a Cochabamba. Para distrair o espírito durante a viagem li a biografia de Werner Guttentag, judeu alemão de Breslau, que escapou à treva nacional-socialista , fugindo para a Bolívia em 1939, tinha então … More Cruzamentos
Passei por aqui para vos desejar Páscoa Feliz
Agora essa. Uma pessoa prepara-se para ser docente num seminário de jornalismo na Bolívia ( se sobreviver ao voo com a Boliviana de Aviación), numa cidade cujo nome em Quechua significa “planalto pantanoso”. Uma pessoa mentaliza-se para o facto de ir passar as próximas duas semanas a comer batatas, “Locro”, “Pampaco” e “Empanadas” e beber mate. … More Passei por aqui para vos desejar Páscoa Feliz