Portugal foi invadido por um bando de chalupas. Bando é exagero claro porque bando evoca organização e um pensamento coerente, o que no caso em apreço é falso alarme.
Há dias em que percorrendo as redes sociais o país parece um hospital psiquiátrico dominado pelos pacientes – e creio que em alguns hospitais psiquiátricos não há pacientes tão perigosos como estes chalupas.
A chalupagem nacional mistura o 5G ( e eu aposto 50 euros com cada um dos digníssimos leitores que não fazem a menor ideia de como funciona a tecnologia), com os chemtrails, põe-lhe uma pitada de Rockefeller, Soros e Bill Gates, adiciona um chip a gosto (quem precisa de chip quando usa telemóvel) e discute ciência com base no doutoramento tirado nas horas passadas na sanita a ler as páginas pela verdade e a ver uns vídeos do YouTube.
A chalupagem nacional recusa gestos básicos como lavar e desinfectar as mãos (mas bebe água ionizada, até é vegan crudífero e tem cristais, muitos cristais energéticos e quânticos), recusa também o uso de máscara (chorando lágrimas de crocodilo pelos velhinhos abandonados enquanto faz meditação pela bondade e empatia, palavra mais gasta que uns jeans rasgados) que protege os outros e, imagine-se até a eles e aos chorados velhinhos.
A chalupagem nacional acredita que tudo isto é plano, perdão um plano, não sabem muito bem para quê, mas é um plano para “instalar o medo”. Como se qualquer político tomasse medidas impopulares só porque sim (é que se está mesmo a ver). Os políticos fogem mais depressa de medidas impopulares de que os chalupas das máscaras (das de oxigénio e das dióxido de carbono, piada para conhecedores de chalupas).
Espirrar para o antebraço ? “Ohquehorror” estão a limitar a minha liberdade individual, distanciamento físico ? “Ohquehorror”.
A verdade é que existe uma conspiração para afastar do mundo as pessoas, digamos, normais. A depuração foi longe demais e o resultado é que hoje existem, comprovadamente, apenas dezessete pessoas em todo o Portugal que sabem “a” Verdade. Destas, quinze só revelam o que sabem por muito dinheiro, uma está muito doente e a outra está em retiro no Tibete e não quer ser incomodada.
Mas pergunto eu, se o o vírus não existe (nem os mortos, nem o sofrimento das famílias e amigos, nem o trabalho dos profissionais de saúde, nem os funerais)porque se revoltam ? E o que teme a chalupagem?
Uma invasão de aliens? Não se preocupem porque se eles existirem devem estar a rir-se à gargalhada. Ahh já sei a implementação da ditadura. Curioso, vejo boa parte dessa chalupagem a alinhar com certos partidos cujo entendimento democrático é digamos muito duvidoso.
Abençoado Presidente da República e a paciência magistral com que deu uma lição de cátedra à chalupagem.