Em 2006 uma palavra entrou no dicionários de inglês: “pizzled”, uma amálgama entre “puzzled” (perplexo) e “pissed off” (fulo). Esta palavra designava o sentimento quando alguém a meio de uma conversa sacava do telemóvel e começava a falar com outra pessoa. Nessa altura as pessoas sentiam-se ofendidas e indignadas. Uma década depois a desatenção parece ter-se tornado a regra. O que tem custos sociais e individuais.
Não sei se conhecem aquele provérbio indiano que diz que “quando um carteirista encontra um santo apenas lhe vê os bolsos” . O que o carteirista faz é estar focado e como diria o Yoda ” o vosso foco é a vossa realidade”.
A análise da atenção e dos mecanismos neuronais que nos ajudam a permanecer vigilantes intensificou-se durante a Segunda Guerra Mundial fomentada pela necessidade operacional de ter operadores de rádio que se mantivessem o máximo de vigília durante horas seguidas. A actual ciência dedica enorme atenção à atenção, aquilo que nos liga ao mundo moldando é definindo a nossa experiência, que nos permite alcançar ( atenção deriva o latim attendere, alcançar) o mundo, o outro e a nós próprios.
Em “Foco”, a obra prima de Daniel Goleman sobre a atenção, o psicólogo reflecte sobre este défice de atenção. Um dos aspectos mais perturbadores no livro é a apatia e o embotar de emoções. Dito de uma forma simples: quanto mais horas são passadas a olhar para ecrãs digitais, a rede de circuitos sociais e emocionais no cérebro altera-se, maiores são os défices.
Talvez o maior perigo desta era digital não seja o de termos robots a pensar como pessoas, mas pessoas a agir como robots.
( a boa notícia é que a atenção, o músculo cognitivo que nos permite seguir uma história, aprender, criar, levar uma tarefa até ao fim e amar em sentido lato, pode ser treinado).