Descobrir o tamanho dos nossos limites é parte do desafio de viver. E eu nunca tive medo de ter medo. Concedi-me uma pequena aventura.Desde que me lembro que sempre quis saltar de pára-quedas. Amo a liberdade e poucas coisas estarão mais próximas dela, de suspender o tempo, do que o deslizar pelo céu em queda-livre. Uma espécie de suspiro contido entre a êxtase e o medo.
Aproveitando uns dias em Lisboa, no regresso de Maputo, marquei o salto-baptismo. Com generosidade e muito boa disposição a Cristina, que me conhece desde a idade dos dentes de leite, acompanhou-me. Chegámos ao aeródromo Bissaia Barreto, em Coimbra, com os maxilares doridos de tanta risada. Nada como o riso para exorcizar o nervoso miudinho. O meu, que ela ficou em terra.
Entre pára-quedistas à séria eu era a única a chegar com uma mala de cabine (lilás). Antes que se desfaçam em riso, explico: sai directa de Lisboa, maquilhada e com saltos de quinze centímetros pouco adequados para a ocasião. Na mala estavam a muda de roupa e os sapatos de todo o terreno para o salto. Troquei de roupa, vesti um fato cor de laranja e fui escutar as pacientes instruções do Nuno, o meu piloto-tandem (leia-se o homem nas mãos do qual pus literalmente a minha vida).
Em menos minutos do que os que duram um fado já estava dentro da avioneta, com capacidade para quatro passageiros e o piloto. A vista sobre Coimbra é deslumbrante e aquele sábado de Dezembro ofereceu-me um céu desafogado. Sublime.
Quando chegamos aos dez mil e quinhentos pés foi tudo muito rápido. Abriu-se a porta da avioneta e a vida rugiu com mais força dentro de mim. Invadiu-me uma tranquilidade, um estado imperturbável, enquanto andava às cabalhotas pelos ares em queda livre. Quem precisa de meditação se pode deslizar pelos ares? Depois abriu-se o pára-quedas. Um esticão e ficamos ali a pairar como uma ave. Diz o Mia Couto que “pouco teremos visto do mundo se não tivermos olhado os pássaros”. Acrescento e se não tivermos voado como eles.
Realizar um sonho é trocar de espelho, deixar o espelho domesticado da rotina. E deslumbrar-nos com a vida. Desde sábado que trago dentro de mim um momento único, numa única e irrepetível vida.
PS- Obrigada à Fly- Skydive Coimbra e ao Nuno Lopes
Uau!!!!! 🙂
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Foi mesmo isso. Coooooolllll.
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É isso aí! Viver mendigando por medos é um reflexo de sua própria infertilidade, devemos provar que limites são inúteis quando podemos estar manobrando escolhas! Parabéns pela coragem! 😉
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Muito obrigada.
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Ó pá, para saltar em paraquedas, eu precisava de levar um gajo para me empurrar! Mas tenho inveja de quem salta… Desejo-te Boas Festas e um Novo Ano pelo menos tão maluco como este
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Saudades tuas!! Um beijo grande amigo querido.
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Ó Helena Detróia, a letra dos textos no teu blogue é demasiado pequena, é preciso uma lupa para ler! Aumenta dois ou três pontos para os cotas também lerem,,,
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Uau! Em grande! Parabéns pela coragem e pelo feito! Beijinhos
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Foi genial. Tenciono repetir.
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Nop. No pára-quedismo, alcançado um objectivo sucede-lhe outro, necessariamente de grau superior. Ouse!
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Já a felicitei pela experiência noutro local, mas reitero o cumprimento. Depois de uma carreira feita nessa actividade e não só, fico sempre satisfeito por ver que o pára-quedismo de lazer não pára. Aguardo a reportagem do seu AFF (acelerated free-fall course, curso de queda livre acelerada, como lhe quiser chamar). 🙂
O primeiro AFF feito em Portugal teve como aluno o António Camacho Soares. Os instrutores foram o J. Lousada e o H. Merino, todos oficiais pára-quedistas. O C-212 foi a aeronave utilizada, o salto foi na ZL do Arripiado, a 4000 mts AGL e o Camacho utilizou um EFA Papillon (hemisférico). Corria o ano de 1985, portanto foi há 30 anos. Blue skies!
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Muito obrigada pelo comentário. Irei sim fazer o curso. Imaginava que a experiência me fosse fascinar e fez mais que isso: conquistou-me.
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