Nada mudou. Sobre o teu nome deixei cair o tempo, rasguei-o numa árvore. Não te invoco. Encontro-te no recorte do silêncio tão pesado que me dobra. Aguardo um vento de feição que leve o teu perfume que me atravessa. Assim me faço ao sono, noite após noite, lembrando horas, de olhos desatentos sobre os livros, em que me demorava a ver-te dormir.
Nada mudou. Parti para os lugares derradeiros do mundo. Viajei países de luz clara e pátios com palmeiras. Naveguei mares incertos com bússola e astros. Escolhi ser outra pessoa, mas as águas não tiveram compaixão, devolveram-me o verde do teu olhar.
Em nenhum lado, nem nas noites de luar transparentes, encontrei um lugar sereno.
Nada mudou. Porque é atrás de ti que fecho a mala, que escolho os livros que não abandono a meio. Tenho o teu nome rente aos lábios e ainda que o quisesse murmurar calo-me.
É por ti, nesses países onde a luz quente me afaga os ombros, que recuso outras bocas, outros braços ancorados na minha cintura, outro peso a esmagar-me sobre a areia.
Sei que não volto ao teu corpo, que a tua voz não chamará por mim, que este amor é um mapa que não volto a desdobrar, que continuarás a partir na véspera de eu chegar.
Mas nada mudou, ainda que em silêncio guardo o que por instantes foi meu. Talvez este amor estivesse escrito, se não o estava escrevo-o eu.
Helena Ferro de Gouveia, 29.07.15
Que bonito, Helena. Um amor assim, é preciso preservar, nem que seja só a lembrança dele. Se ele voltar, e voltará se estiver escrito, terá valido a pena ter cuidado, ter acreditado. Se não voltar, porque o Inverno foi duro e apagou a inscrição, o coração se abrirá para um novo amor, nunca menor que o anterior, porque ele (o coração) agora sabe.
Felicidades, de uma recém avó (derretida) para futura avó (em processo de derretimento …).
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