Alguns snobs por aí desprezam a leitura de casa de banho como se a elevação da reflexão não fosse compatível com os momentos mais básicos da fisiologia humana. Eu descobri a obra quase toda do Ernest Hemingway na loobrary generosa do meu apartamento em São Francisco (o senhorio era um professor universitário) ou folheei magníficos albuns de viagem da Taschen na casa de banho de um hotel de Berlim.
Embora a leitura de lavabo seja um vício urbano e moderno, por razões óbvias, já os banhos romanos dispunham de bibliotecas para os frequentadores.
Tenho amigos que possuem uma oferta irrepreensível de livros na casa de banho – de O Afinador de Pianos, de Daniel Mason , a” A Medida do Mundo”, de Daniel Kehlmann – outros um incontável número de revistas – da culinária à actualidade – outros literalmente “leitura de casa de banho” ou livros decorativos forrados de papel colorido. Todo o tempo é precioso e em qualquer momento podemos ler (acrescente-se que quem duas filhas adolescentes e um cão de grande porte, os lavabos podem ser o local mais zen da casa).
Na minha casa de banho há sempre uma pilha de livros, em equilíbrio instável, revistas variadas . Como a leitura me transporta para o caminho do desconhecido e me prende no deslumbramento da viagem, tantas vezes me esqueço do local onde estou. Privilégio? Sortilégio?
E há prazer maior do que ler estirada na banheira ?
Ando a ler ( sim no local que vocês sabem) uma antologia de fragmentos de poesia grega . Fico presa nas palavras de Safo, a primeira grande poetisa do mundo ocidental: “Da Beleza/ uns dizem que é uma hoste de cavalaria,/outros de infantaria;/outros dizem ser uma frota de naus, na terra negra, / a coisa mais bela: mas eu digo ser aquilo que se ama”.