Muda a folha do calendário e há uma centelha de esperança para a Guiné-Bissau. A rota mais directa para pôr fim à endémica instabilidade do país que, parafraseando Pedro Rosa Mendes, é “a mãe africana da democracia portuguesa”, pode ser um voo Díli-Bissau.
A nomeação de José Ramos-Horta, prémio Nobel da paz e ex-presidente de Timor-Leste, pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, para liderar o UNIOGBIS, criado para consolidar a paz na Guiné-Bissau é das melhores notícias que poderiam ser dadas aos guineenses neste ínicio de ano.
Tenha-se ou não reticências quanto à personalidade de Ramos-Horta reconhece-se o mérito de ser um exímio diplomata e de se movimentar bem nos tabuleiros internacionais. O prestígio do Nobel poderá conseguir o “milagre” de trazer a micro-Guiné para a agenda da comunidade internacional .
A Guiné assemelha-se a um doente terminal, cujo diagnóstico se traçou há décadas, mas cujos médicos adiam a intervenção, adiando com isso um projecto nacional.
Recordo alguns alguns factos soltos:
-A ossatura de um Estado faz-se de dois pilares: o da segurança e o da justiça; na Guiné-Bissau, o pilar da segurança ruiu há muito e o sistema de justiça é inexistente.
– O uso da força pelos militares substituiu-se as instituições do Estado. Sem ajuda externa para acabar com o envolvimento das Forças Armadas na política, é impossível acabar com a chantagem dos militares sobre os políticos, a sua manipulação do poder legislativo e do poder judicial e o deslizar do país para o tráfico de drogas entre a América Latina e a Europa.
Contudo, a Guiné, não é (ainda) ingovernável.
Talvez, quero acreditar que sim, o homem que exclamou que “Timor ida deit” [em tétum, Timor é um ou uno de lorosae (leste) a loromonu (oeste) de tasifetu (norte) a tasimane(sul)] seja o homem certo para que o futuro não deserte a Guiné e ela encontre o caminho para casa. Garandi i polon, ma mancadu ta durbal ( em crioulo guineense, grande é o poilão, mas o machado derruba).