Que manhã tão bonita! Acordei com o levíssimo rumor da neve a cair e com vontade de dizer bom dia à vida. As maravilhas do mundo são tantas, tantas, mas uma das minhas preferidas é o tempo de Advento. Estes dias serenos de preparação para o Nascimento do menino-Deus, que nos ajuda “a tecer a vida/como quem entretece uma história de amor”.
Sábado foi dia de descer à cave. Abrir caixotes, retirar com cuidado as bolas de vidro coloridas e as estrelas brilhantes. Desnudar os presépios, vindos do Norte e Sul, do Poente e do Nascente, do papel de seda que os protege e contar as histórias de viagem de cada um deles. Terminada a narração, bebido o cacau quente, a casa enche-se risos, canções e cumplicidades. A festa começa entre o odor a resina o gosto a noz-moscada e vozes femininas.
Decorar a casa, com as minhas filhas, para o Natal é, ano após ano, uma pintura inacabada. Viagem que possibilita novas descobertas, como caravelas a navegar rumo ao sul à procura de outros países. É o milagre doce de um nascimento. E “para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos./Nascemos muitas vezes ao longo da infância/quando os olhos se abrem em espanto e alegria./Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca”.
“ Mami quando vamos fazer o bolo? E as Plätzchen? Mami podemos ajudar-te?”. Açúcar em ponto, coco, chocolate e especiarias. “Sabem que houve tempos que a pimenta e a canela eram quase tão raras como o ouro?”. A mais nova, de cara lambuzada, dedos pegajosos e olhos muito abertos, pede “conta”, e eu falo de expedições a longínquas paragens, de povos misteriosos, de comerciantes, marinheiros, do Oriente dos reis magos (em torno das suas relíquias foi construída a mais célebre das catedrais alemãs, a de Colónia). Falo de viagens na cozinha, , ou não fosse “metade da minha alma feita de maresia”.
Bordada de constelações, como a noite azul de Jerusalém, a árvore de Natal ergue-se enchendo a sala de luz. Sob o aparador os presépios lembram a noite antiquíssima em que, in dulce jubilo, Jesus nasceu dentro de nós.
Domingo foi dia de acender a primeira das quatro velas da coroa do Advento (uma belíssima tradição alemã que há muito adoptamos aqui em casa) e do coro juvenil da igreja ensaiar cá em casa. “Adeste Fideles/Laeti triumphantes/Venite, venite in Bethlehem/Natum videte/Regem angelorum/Venite adoremus/Dominum”, cantam, acompanhadas ao piano, sem tropeçar no latim. Fecho a porta da sala devagarinho. Fico a escuta-los na cozinha de olhos mareados. E agradeço este encantamento, este doce prelúdio de Natal.

Que bonito! É tão bom poder acreditar em e continuar tradições.
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Obrigada Débora. Num mundo cada vez mais desumanizado a tradição e digo mesmo a fé são portos de abrigo seguros.
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Lindo!!! O encantamento e a magia são essenciais, elevam.nos o espírito e dão-nos paz. E que lindos estão estes floquinhos de neve a cair no seu blogue…*** Envie para cá um bocadinho de neve natalícia, Helena, porque frio já temos, só falta o cenário de postais da época. 🙂
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Se não derretesse enviava Fátima. Com neve o Natal reveste-se de um encanto ainda maior.
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Um lindo texto sobre o Natal, e as preparações em família.
Lembrei-me que também costumam cair uns flocos de neve no meu blogue, tal como ontem lá fora 🙂
Cumprimentos.
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Obrigada Luís 🙂
Cumprimentos de Bona.
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