Temos o privilégio de nos sabermos mortais. E a vida consiste na graça de travar o tempo. De congelar momentos felizes. De manter a capacidade de encantamento intacta.
Olho para as minhas filhas neste final de tarde em Londres. Regressamos do Museu de História Natural, onde se amplia a vida e as infinitas escolhas da biologia, onde a ciência é uma luz aberta sobre as interrogações, condimentando o saber.
Gosto de pensar que haverá sempre algo que escapará ao conhecimento dos homens, por mais que me embasbaque com a Ciência e a meticulosidade dos cientistas. Mesmo que me descodifiquem a genética serão incapazes de traduzir a poesia contida no olhar de colo das minhas filhas. “O quê Mami, já vamos embora?”, protestam quando a mãe, exausta, expressa o desejo carnal de tomar um cappuccino.
Reflexos vermelhos acariciam as nuvens, cobrem-lhes o cabelo de luz dourada. Rostos luminosos. Riem muito, trocam parvoíces, traçam planos cúmplices. Troçam docemente do cabelo despenteado da mami. Está frio e elas aconchegam-se uma na outra. Piano e partitura. Não trocam o horizonte amplo do segundo andar do Double Decker descapotável pelo conforto. “Puro espaço e lúcida unidade,/Aqui o tempo apaixonadamente,/Encontra a própria liberdade”, escreveu Sophia.
Correram depressa os dias de liberdade deste “Girls Weekend”, horas roubadas à voracidade do quotidiano e vividas com a intensidade dos momentos que se sabem preciosos. A vida é imprevisível, o futuro dos nossos filhos também, mas não importa porque estes momentos na agitada, caleidoscópica Londres, têm essa força que só o amor conhece.
PS- A mais velha agradeceu o fim de semana colocando uma fotografia de ambas no Facebook, de sorriso rasgado, com o comentário “Thanks Mami”. A mais nova, delicadíssima, meteu-me na cama um tigre de peluche para “levares para a rádio e saberes que és única, não há dois tigres com as mesmas listras. A propósito nem ninguém com o teu cabelo”. Ohmmmm.
Parabéns pelas filhas, Helena…
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São lindas mesmo ;))
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