Roubei o título deste post ao Anísio Melo*. E escrevo-o porque hoje é dia da Amazónia. E que melhor para a celebrar do que uma lenda Tupi.” O mito é o nada que é tudo”.
Tupã, o deus trovão dos Tupi, tinha uma ave preferida, o Jaburu (tuiuiú, tuiuguaçu, tuiú-quarteleiro, tuiupara, rei-dos-tuinins) a mais bela das aves da Amazónia. Ao Jaburu cabia a tarefa de distribuir as graças de Tupã, de forma justa, por todas as aves da terra. No último dia de cada ano o Jaburu voava até ao paraíso e recebia um aturá (cesto alto e cilíndrico que os índios carregam às costas) pleno de graças para distribuir. Um dia o Jaburu foi tentado e resolveu ficar com o aturá apenas para ele. “As outras aves que voem até ao paraíso”, pensou. De imediato o Jaburu foi entristecendo, entristecendo e o seu pescoço que era coberto de plumagem alva como o arminho, enegreceu. Ainda hoje o Jaburu paga pelo pecado da ambição desmedida. Deixou de ser a mais bela das aves e é um pássaro branco, com um pescoço feio, negro e pelado.
Ali na selva, em cima do Equador, onde a água imensa é o caminho e o olhar se suspende na beleza em estado bruto, onde o canto do uirapuru ( ave que, segundo outra lenda, quem a possuir terá eternamente sorte nos amores) tem um elegância singular, as estórias e as lendas transportam-nos por léguas e léguas de imaginação. Difícil é por vezes saber onde acaba a estória e começa a lenda…
*Artista plástico amazonense