A imagem é de 1984, de um campo de refugiados na Etiópia visto pela lente de Sebastião Salgado.
Tenho uma enorme dificuldade em olhar para ela. Angustia-me, inquieta-me. Penso nas vidas adiadas, nos desertos e campos de refugiados para lá do mundo e do mundo confortável que não os quer, imbuído que está na individualidade e impessoalidade extremas. Penso nas vidas feitas de fome, frio, violência, doença e morte. No Darfur, no Uganda, na República Democrática do Congo, na Somália. E naqueles que chegam à fortaleza Europa.
Bento XVI recordou hoje no Vaticano que os clandestinos, os refugiados, os migrantes”não são números”, são pessoas. Amar o outro é ter a capacidade de olhar para o já visto, e nos incomoda, para o já nomeado, e arquivado nos esconsos da memória, como se não o conhecêssemos. Desviar o olhar mata.
Hoje passou um filme que pretende homenagear os refugiados, os famintos, os oprimidos e as pessoas que tentam aliviar o seu sofrimento – Beyond Borders. Que já conhecia e que me impressionou pela desumanidade em que vivem milhões de pessoas e pelo humanismo do médico (que bela personagem, a de Clive Owen).
Belo texto, bela reflexão, bela coincidência.
GostarGostar