Cimeiras em países distantes e tratados internacionais são os grandes temas das notícias climáticas na imprensa portuguesa, conclui um estudo a três jornais, divulgado ontem em Lisboa.
As alterações climáticas “são um assunto demasiado distante das pessoas, uma questão de grandes acordos internacionais que é decidida longe e com poucos reflexos a nível nacional”, disse ao PÚBLICO a investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, Luísa Schmidt e uma das autoras do estudo As Alterações Climáticas nos Media e na Opinião Pública.
O estudo, que faz parte do projecto internacional Compon (Comparing Climate Change Policy Networks) para analisar cobertura mediática das Alterações Climáticas e onde também participou Ana Horta, do Instituto de Ciência Sociais, analisou 431 artigos publicados de 2007 a 2010 no Diário Económico, Jornal de Notícias e PÚBLICO.
Os principais temas dos artigos são os “acordos globais” e as “políticas europeias/nacionais” sobre alterações climáticas. Entre os menos abordados estão as práticas de sustentabilidade de cidadãos e empresas. Na verdade, apenas 2,6% dos artigos dizem respeito à escala local e 3% à regional.
Escala local ausente
“A escala regional e local têm referências praticamente ausentes” nos jornais, disse Anabela Carvalho, do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, que também participou no estudo. “Isto é problemático, porque os cidadãos têm dificuldade em se ligarem a estas questões. As alterações climáticas são construídas fora do alcance da intervenção do cidadão”, acrescentou a investigadora. Por exemplo, “não há cruzamento entre planos rodoviários e alterações climáticas”.
Outra das conclusões que Luísa Schmidt salienta é o facto de os jornais não fazerem a ligação entre a crise económica e financeira e a crise climática e energética. “Ninguém liga os dois tipos de crise, estão acantonadas. Os jornais abordam o assunto muito ligado só às questões do ambiente, quando este também diz respeito a muitas outras coisas, como a saúde, economia, energia e agricultura.”
Helena Geraldes
in Público, 22.11.2011