É um clássico angolano. Azar ser-se pobre num país escandalosamente rico.
Façamos uma cronologia breve. Inaugurou-se há quatro anos e trata-se do primeiro hospital público construído em Angola desde a independência do país em 1975. Um cicio da promessa joseeduardista de reconstrução nacional após 37 anos de guerra civil.
Em Junho de 2010, o Hospital Central de Luanda, evacuou os pacientes e o pessoal médico devido às fissuras que o edifício apresentava e ao iminente risco de colapso. Desde essa altura o hospital é um provisório. Funciona em tendas. O Hospital Público de Luanda foi construído pela China Overseas Engineering Group Co e custou oito milhões de dólares. Dez vezes mais foi investido numa clínica privada (construída por portuguesas e paga pela Sonangol) onde se trata a elite política, petrolífera e os que singraram na vida. Azar ser-se pobre num país escandalosamente rico.
Do mesmo modo que Angola outsourced os seus assuntos de Defesa aos compañeros de Cuba, entre 1975 até 1989, agora cabe à China reconstruir Angola e dotá-la de infraestruturas, o novo “abre-te Sésamo” da redenção nacional. Troca-se “desenvolvimento” por direitos humanos e liberdades civis. Angola não podia ter escolhido melhor professor. Desesperemos.
Neste triste país rico, que só se sobressalta quando, de repente, pousa o olhar no Facebook e descobre ( pasme-se!) que há alguns que consideram que trinta dois anos é muito tempo, ainda há vozes livres, sensatas e certeiras como a de Rafael Marques. Num artigo publicado no World Affairs Journal ele denuncia o novo imperialismo chinês e as promessas incumpridas do Presidente. Vozes como a dele dão-nos esperança que os dias dos nossos ditadores “confortáveis” estejam contados. E se a múmia de Lenine em Moscovo pode ser em breve enterrada, também poder dos Josés Eduardos desta vida pode esboroar-se. Como o Hospital Central de Luanda.