Cinco anos após a publicação das doze caricaturas de Maomé o diário dinamarquês “Jyllands-Posten” reeditou-as ontem em livro. “Tavshedens tyranni” (“Tirania do Silêncio”) é uma obra provocadora que lança uma lancinante interrogação sobre a liberdade de expressão e o perigo de ceder a liberdade intelectual e política a troco de um apaziguamento nesta espécie de Cruzadas ao contrário que vivemos.
A comunicação imediata alterou as regras da geopolítica . Uma caricatura em Copenhaga é uma manifestação em Jacarta. Vivemos num mundo em que coexistem “sociedades não contemporâneas” ou, na expressão de Jean Lacouture, “na mesma rua e no mesmo momento convivem, lado a lado, Nova Iorque e Tombouctou, estamos ao mesmo tempo no séc. VII e no séc. XXI”, mas com acesso à internet.
Violência, ameaças e intimidação tornaram-se argumentos no debate público. Uma realidade pouco compatível com os valores das sociedades democráticas. Há quem entre nós escolha iludir o problema, há muitos que acobardados obedecem à ditadura politicamente correcto ou do pronto-a-pensar, há alguns, poucos, que esgrimem contra o “fundamentalismo da ofensa”.
Por mais voltas que se dê ao assunto a “guerra” despoletada pela publicação das caricaturas de Maomé é apenas um pretexto usado por alguns no mundo islâmico para reagir ao que os incomoda. E o que é os incomoda? A modernidade ou democracia secular, ou na maioria dos casos ambas. Tem razão José Cutileiro quando escreveu que “ a Europa está ameaçada e de duas uma: ou temos juntos a coragem das nossas convicções e as defendemos ou continuamos medrosos e divididos à espera de mais pancada”.