José Cutileiro contava , há uns meses, no Expresso a história do o fidalgo escocês Fitzroy MacLean. Este saltou de pára-quedas sobre a Jugoslávia em 1943 para depois informar Churchill se os aliados deviam apoiar os guerrilheiros de Tito ou os rebeldes do general monárquico Mihailovich que lutavam ambos contra o ocupante nazi. Qual dos dois matava mais alemães? Fitzroy aconselhou apoio a Tito mas acrescentou: “Tenho de o prevenir, primeiro-ministro, que se nós ganharmos, Tito estabelecerá um regime comunista”. “O senhor MacLean tenciona ir viver para a Jugoslávia depois da guerra?”, perguntou Churchill. “Não, primeiro-ministro.” “Eu também não”, rematou Churchill.
Lembrei-me disto a propósito do Afeganistão. Hoje milhares de alemães, incluindo a chanceler Angela Merkel e outros governantes, compareceram na cerimónia fúnebre de quatro soldados mortos pelos Taliban no Afeganistão, na cidade Ingolstadt da Baviera . Os soldados foram mortos pelos Taliban em dois ataques a 15 deste mês, elevando para sete o número de mortos no Afeganistão desde o início de Abril e para 43 desde o início da missão no Afeganistão. Uma sondagem recente concluiu que cerca de 62 por cento dos alemães querem o regresso a casa dos 4.500 soldados destacados naquele país.
Mas o abandono não é o caminho.
No Afeganistão o perigo para o mundo em geral e o Ocidente em particular, sustentava exemplarmente José Cutileiro, ” não vem da fraqueza do poder central, do arbítrio dos ‘senhores da guerra’, da corrupção generalizada e de um sistema de valores morais iníquo que o mundo conhece desde meados do século XIX. O perigo vem dos talibãs. Derrotá-los militarmente, tirar-lhes o domínio territorial, secar-lhes as fontes de apoio no Paquistão e desacreditá-los assim no mundo islâmico é a missão da operação da NATO e de iniciativas civis que a acompanham. Houve até agora erros crassos – ideológicos, estratégicos e tácticos – mas vai-se a tempo de emendar a mão quer na acção militar quer na articulação do poder internacional com o poder afegão. Sucintamente: não bombardear mais civis e ouvir os chefes tribais. Cumprida a tarefa, sair deixando o Afeganistão um país onde talvez Churchill não tivesse gostado de viver mas livre para sempre dos talibãs.”