Ao desafiar publicamente uma potência política a Google afirma-se como um actor político cujo poder não radica num território, mas numa rede. No século XXI a natureza do poder está a alterar-se. E o ciberpoder da Google tem tal dimensão que nem mesmo a China pode dar-se ao luxo de ignorá-lo. A net e a sua capacidade de mobilização – o denominado poder brando, ou o sexto poder – pode mudar as regras dos novos confrontos políticos.
Não será casual que a empresa de Mountain View tenha tomado a decisão de redireccionar os netizens que acederem ao motor de busca da Google, na China, o Google.cn, para o motor Google.com.hk, alojado em Hong Kong, numa altura de tensão nas relações entre Washington e Pequim para a qual têm contribuído as taxas de conversão do yuan, as sanções contra o Irão devido ao seu programa nuclear, a venda de armas a Taiwan por parte dos EUA, mas também a censura na Internet praticada pelo regime chinês.
Ninguém põe em causa a bondade do lema da Google Don’t do evil , que não a impediu em 2006 de aceitar as regras do jogo impostas por Pequim, mas há motivos para estarmos preocupados. Posicionar-se como defensora dos direitos humanos, da liberdade de expressão e contra a censura é uma excelente operação global de Public Relations – genial porque nãoi mplica perdas económicas – quando muitos se questionam sobre a gigantesca quantidade de informação sobre todos nós que o motor de pesquisa armazena. Quando nos inquietamos com a nossa “transparência” virtual.Nada escapa a net. Nada.
Que surpresas mais nos reservará a Google ?