Há algumas semanas, fui surpreendido por esta notícia:
“Dezenas de milhares de livros de Jorge de Sena, Eugénio
de Andrade, Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura,
publicados pela ASA ao longo da última década, foram
destruídos recentemente pelo Grupo Leya. (…) Nos 96
títulos atingidos incluem-se obras marcantes como Daqui
houve nome Portugal (…) e 21 retratos do Porto para o
século XXI (JN, 9 de Fevereiro de 2010)
A minha primeira reacção foi negativa. Mas já reconsiderei.
O que aconteceu é que a Leya quis dar uma ajuda:
num país em que tão poucos lêem, para que era tanto
livro ali a sobrar? Leia, sim, mas o que diz a Leya. O que
outros foram publicando, no tempo em que as editoras
ainda não eram iguais à central da borracha, não interessa
nada – leia o que diz a Leya ou então não leia nada.
Que diríamos se a Nestlé promovesse uma destruição
de papas para bebé, de cereais de pequeno-almoço, de
bolachas, de iogurtes? Diríamos que é um crime contra o
bom-senso e um desrespeito por quem tem fome. E dos
livros que foram para guilhotinar?
Luís Fernandes, Professor da Universidade do Porto
“Público” 02.03.2010